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Feedback: o recurso mais importante a quem escreve

Existe um recurso que costuma passar batido nos debates sobre ferramentas, técnicas e escrita. É algo necessário tanto a quem está começando a escrever como para quem já tem muita coisa publicada. Difícil de encontrar, é muito valorizado por qualquer um que leve a escrita a sério.

O nome disso? Feedback. Ou, em bom português, um retorno, uma opinião sobre o seu trabalho.

Se você acha que só iniciante precisa deste retorno, faça um exercício. Pegue um livro que você tenha gostado muito e procure a seção “agradecimentos”. Você vai encontrar o nome de pessoas que apontaram os problemas e trechos mais enrolados quando o livro ainda era um conjunto de garranchos e ideias. São como assistentes da ourives que ajudaram a polir a joia que chegou às suas mãos.

No caso de autoras populares e publicadas por grandes editoras, a maior parte desse trabalho é feito por duas figuras importantes do mercado: a editora e a agente literária. São profissionais especializadas em encontrar pelo em ovo.

Além da agente e da editora, há duas figuras que também pegam o texto fresco, assim que saem das mãos da escritora: a leitora beta e a leitora crítica.

Leitura crítica é um processo especializado, feito por profissionais capazes de apontar as falhas e acertos de uma forma estruturada, indicando problemas de roteiro, ritmo, construção de personagens e cenários. É uma análise que vai além de uma mera opinião: muitas vezes também indica um público ideal e adequações para ele.

Já a leitura beta é uma opinião mais solta, não profissional, alguém que lê com o olhar do público e vai retornar com impressões sobre o que funcionou ou não, que partes capturaram sua atenção e quais pareciam arrastadas.

No Brasil, leitoras beta fazem um pouco de leitura crítica e vice-versa, a ponto dos termos se misturarem um pouco.

No MEU texto ninguém mexe!

Esse posicionamento “artista” quase não tem mais espaço no mercado editorial, um livro é sim uma obra artística, mas, assim como um filme, é um conjunto de esforços e de visões. Até grandes mestres da escrita são bastante gratos às editoras, agentes e críticas, e “Deus me livre do leitor pegar o texto tal como ele é digitado pela primeira vez no computador!”

Escrever muito e repetir os mesmos erros?

A principal dica que você vai encontrar em todo curso de escrita é: leia muito, escreva muito. Mas existe um limite para a melhoria que você é capaz de atingir sozinha enfiando textos na gaveta.

Pense em alguém autodidata aprendendo a tocar piano. É possível aprender e evoluir muito sozinha, mas a orientação de uma professora experiente pode fazer valer muito mais aquelas horas de treino, apontando erros e vícios que por conta própria a aluna demoraria meses para perceber. Escrever é a mesma coisa. Sem alguém para ler os rascunhos, você pode patinar por meses de escrita que poderão ser mais bem aproveitados.

É por isso que sempre recomendamos cursos e oficinas. Eles não substituem horas de escrita, mas fazem elas valerem a pena para a evolução do texto.

E quem está começando a escrever?

É muito fácil para uma autora já publicada ter uma agente e editoras para se debruçar sobre o texto, mas e quem ainda não chegou nesta etapa? E quem está mais interessada em se autopublicar? Como eu encontro gente para ler meu texto?

Aí é que está: é muito difícil encontrar boas leitoras betas. Leitura crítica é um pouco mais fácil, pois é um serviço pago.

Como eu encontrei minha turma

Tive muita sorte. Quando eu comecei a levar a sério a escrita, lá pelos menos catorze ou quinze anos, encontrei um fórum de RPG chamado SpellBrasil. Dentro desse fórum havia uma seção de “contos”, onde compartilhávamos pequenos contos, a grande maioria em cenários de fantasia altamente derivados de D&D, Tolkien e afins.

Neste fórum havia um forte senso de comunidade, uma vontade genuína de ajudar. Cada conto publicado recebia comentários, alguns de incentivo, alguns com críticas leves. Embora há quem diga que sobravam elogios e faltavam críticas, de modo geral era possível ter um retorno muito importante àqueles que começavam na escrita. O fórum fechou há muito tempo, mas ainda troco textos com alguns amigos que fiz nessa época. Algum tempo depois, encontrei um grupo de escritores com disposição semelhante na Skynerd, fórum ligado ao site Jovem Nerd, também já extinto. Foram nestes ambientes que acabei conhecendo outros escritores em estágios semelhantes de começo de carreira.

Essa é a primeira lição: leitura beta é geralmente uma troca entre autoras. Você lê e critica meu texto e vice-versa, assim somos felizes. Aí está a primeira dificuldade: essa troca funciona muito melhor em autoras num mesmo nível de escrita. Quando uma das pessoas tem um estilo muito mais refinado e outra está começando, a relação será desbalanceada (claro, alguém mais experiente pode ajudar quem está começando, mas precisará encontrar outra pessoa para avaliar melhor seu próprio texto).

Hoje vejo muitos grupos de escrita no Facebook. Mas a própria estrutura de “linha do tempo” dos grupos não facilita a publicação de textos longos, apenas pequenos trechos. Esses grupos também costumam crescer demais, tornando mais difícil uma troca genuína. Sei que alguns funcionam muito bem, mas é preciso garimpar.

Pela minha experiência, encontrar parceiras de pena para trocar textos é tão difícil quanto fazer novas amigas. É preciso um alinhamento de estilos, de gostos e preferências literárias, e até mesmo de horários online. Mas claro, o melhor lugar para encontrá-las são comunidades de gente que escreve.

Uma alternativa, um jabá

Lembra que eu disse que editoras são especializadas em analisar e criticar textos? Pois bem, sou o editor da revista Trasgo de ficção científica e fantasia. Meu papel na revista é olhar os contos aprovados com uma perspectiva bastante crítica e apontar alguns caminhos. O conto que você lê na revista é um conto já trabalhado, uma joia polida. Já publiquei contos que, quando chegaram, ainda estavam brutos, eram apenas boas ideias esperando para serem trabalhadas.

Estou ministrando uma oficina online de redação. Nesta oficina, vou ler, avaliar e dar um feedback sobre a sua escrita, o seu trabalho, e inclui até uma leitura crítica profissional de um conto seu ao final do curso.

Minha intenção é oferecer uma alternativa para quem tem dificuldades em encontrar uma leitora beta, alguém para se debruçar e avaliar seu texto. O curso terá também uma comunidade para as pessoas inscritas. Quem sabe você não encontra sua parceira de pena por ali?

Saiba mais sobre esse curso e inscreva-se!

Frase do dia: Batata palha é AMOR em forma de sal.

Foto: GillesB via Compfight cc

Publicado em Literatura Redação no dia 30 de dezembro de 2015

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