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Como receber uma crítica

Meu texto foi rejeitado. E agora?

Como editor, meu papel é criticar. E, muitas vezes, rejeitar textos, ser a pessoa que diz “desculpe, não vamos poder publicar o seu texto na revista“. Por isso penso muito sobre críticas e rejeições. E sobre como elas são ao mesmo tempo essenciais a todo escritor e completamente sem importância. Calma, não é duplipensar.

Vamos começar pela frustração. Ah, a inevitável frustração… Uma das coisas que minha curta carreira no jornalismo me ensinou é a não me apegar ao texto. Seu editor chefe vai cortar o seu lindo nariz de cera (nome jornalístico para “enrolação no começo”) e limar os últimos parágrafos sem piedade até caber no espaço disponível. Isso faz você enxergar o texto como ele é: apenas um conjunto de palavras.

Uma rejeição significa “este texto não está adequado”. Não é uma afronta, uma ofensa, um fim de relacionamento dramático. Na grande maioria das vezes, a rejeição não tem nada a ver com você. Diz respeito àquele seu trabalho. Você escreve outro, melhor, e a vida continua.

Textos são rejeitados por uma série de fatores: o editor não entendeu, o final não estava bom, excesso de clichês, ou simplesmente porque aquele espaço não era o mais adequado para aquele texto. Coletâneas (as sérias, pelo menos) sempre têm um propósito, uma ideia inicial. Às vezes os editores estão buscando uma visão menos aventureira, mais pessoal e íntima. Às vezes é o contrário, está faltando saltar do cavalo para o trem em movimento. Na maior parte das coletâneas isso não está nem escrito no guia de submissão, e volta e meia nem o próprio editor está totalmente ciente dos critérios que operam em sua cabeça. Como escrevi no guia de submissão da Revista Trasgo: “nossos critérios são totalmente subjetivos e incontestáveis.”

Porque a avaliação de um conto — ou qualquer obra de arte — não pode ser nada menos que subjetiva. Ok, há critérios técnicos necessários para uma boa história: coesão, personagens ricos e complexos, trama interessante e original, bom uso das palavras e ausência de erros gramaticais.

Mas às vezes nos apaixonamos pelas histórias que descumprem todas as regras.

Narrativas compõem o tecido que nos envolve desde que nascemos e são os fios com os quais construímos nossa própria realidade. E você quer dar nota com critérios objetivos?

E por fim, histórias são como melodias musicais. Elas harmonizam entre si. Coloque uma ao lado da outra, e o efeito poder ser surpreendente. Coletâneas e coleções são assim. Uma excelente melodia pode ficar de fora por estar destoante do contexto.

Ok, fácil falar. Nunca é bom receber uma rejeição na testa.

Depois de tanto esforço… Escreve, revisa, reescreve, reescreve de novo, para vir um senhor editor que se acha dono da verdade para recusar o MEEEEU TEXTO? QUEM É VOCÊ PARA REC…

Ufa…

Lembre-se, o editor é seu amigo. Ele pode ajudar a impedir que algo com menos qualidade saia com seu nome, e pode te ajudar a melhorar bastante em seu ofício.

Então, o que fazer ao receber uma carta de rejeição?

Comemore

Sim, comemore! Se você está sendo rejeitado, significa que você está escrevendo. Continue tentando, a aprovação é questão de tempo e insistência. Se todos os grandes escritores do mundo têm sua coleção de cartas de rejeição, muitas vezes até mesmo já com as carreiras consolidadas, você pode se sentir orgulhoso em fazer parte da mesma galeria.

J.K. Rowling recebeu uma carta de rejeição 12 vezes pelo primeiro “Harry Potter”. “Zen e a Arte de Manutenção de Motocicletas”, de Robert M. Pirsing, detém o recorde de sucesso de vendas mais rejeitado, com 121 negativas. Outro dia um amigo comentou que um conto seu foi aprovado para uma revista depois de dezessete rejeições. Por isso, comemore e continue tentando.

Converse com o editor

Isso às vezes é possível. Muitos editores brasileiros apoiam de verdade a literatura nacional e querem mais é que o pessoal saia escrevendo ótimos textos. Se você tiver algum contato com o editor, você pode educadamente pedir dicas.

Claro, é preciso ter muito tato nesta hora. Uma coisa é enviar um e-mail com o assunto: “POR QUÊ VOCÊ REJEITOU MEU TEXTO?”. Outra é chamá-lo para dizer “Olá, tudo bem? Sou o autor do conto “A Revolta Azul de Lilás”, sobre a guerra das cores. Gostaria, se possível, de saber algum ponto em que posso melhorá-lo ao reescrevê-lo.” Nem todos os editores vão responder. Mas alguns podem dar boas dicas sobre o motivo pelo qual ele não foi aprovado.

Arrume uma segunda opinião

Não vale a sua mãe. Nem padrinho, melhor amigo, namorado, então, melhor ficar longe. Se for um conhecido, que seja alguém que entenda muito bem do recado. Um escritor, um leitor compulsivo, um editor. Alguém que seja cruel sem papas na língua. Ou um profissional em ler-e-falar-mal, chamado “leitor crítico”. Uma segunda opinião pode dizer onde estão as falhas do seu texto.

PS: Faço leitura crítica profissional. Se quiser uma opinião, é só dar um alô!

Confie no seu instinto

Fui rejeitado em uma coletânea para a qual eu tinha altas expectativas. Não foi legal. Nunca é. Entrei em contato com a editora e pedi algumas dicas. Ela me indicou, entre outras dicas, que reescrevesse o final. Trabalhei em cima do conto, mas o final me parecia ótimo. Resolvi mantê-lo. Uma segunda opinião gostou do final. Quando li um livro desta editora, entendi a sua preferência por situações mais dramáticas, que não era o estilo que eu queria para aquele conto.

Ou seja, o escritor é você, a obra é sua. Editores podem ajudar, indicar caminhos. Mas editores também erram, também têm suas preferências. Às vezes é bom confiar no seu próprio texto.

Reescreva e tente de novo

Com a resposta da leitura crítica em mãos, arrume os principais pontos. Reescreva para acertar o ritmo. Mude aquele personagem para torná-lo menos clichê. Refaça o final. Agora tente de novo em uma outra coletânea. Ou tente novamente publicando como um e-book nas lojas online. Tente disponibilizá-lo gratuitamente em seu blog. Apenas lembre-se, é sempre bom contratar ou arrumar alguém para fazer uma boa revisão antes de publicá-lo por conta própria. Nada afugenta um leitor como um texto carregado de erros de ortografia e gramática.

Se for o caso, engavete e comece de novo

Não se pode acertar sempre. Tenho minha própria pasta cheia de textos rejeitados, muitos por mim mesmo que nunca viram a luz do dia. Mas continuam lá. De repente surge uma coletânea, um convite interessante e opa! Aquele conto estava ruim, mas se eu pegar a mesma ideia, distorcer aqui, juntar com essa outra maluquice… Às vezes o melhor que você faz é sacudir a poeira e partir para o próximo texto. Porque a prática… Ah, a prática…

Sem falar que rejeições podem demorar para chegar. Por isso a melhor coisa a fazer ao terminar um texto é começar outro imediatamente. Não adianta ficar se remoendo no sofá aguardando uma resposta, melhor mudar sua cabeça para a próxima obra.

Receber rejeições não é fácil. Mas quanto maior o soco no ego, mais necessárias elas são, pra gente aprender a deixar de ser metido, reescrever e não esquecer que você nunca pode parar de melhorar sua escrita. E se você ainda não foi publicado, respire fundo, é só uma questão de tempo… Lembre-se, você ainda pode ter 121 rejeições e ainda ser um sucesso de vendas.

***

Esse texto é parte da minha Oficina Online de Redação, que está encerrando a primeira turma essa semana. Em breve devo abrir mais uma. Para ficar de olho e saber em primeira mão quando será a próxima (as vagas gratuitas são limitadas!), assine a newsletter!

Frase do dia: Se tem uma coisa pior do que rejeição, é a ausência de resposta. Essa aí, viu... Não sei lidar.

Foto: spinster cardigan via Compfight cc

Publicado em Literatura no dia 11 de março de 2016

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