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Foco

Ou como não entrar em pânico quando o monstro gigante do prazo já chegou à praia.

Eu sou uma pessoa que faz muitas coisas. Algumas delas dão dinheiro. Muitas outras (ainda) não. Eu sou o editor da Trasgo. Vamos fingir que a próxima edição da Trasgo não está atrasada, sim? Ok. Como editor da revista, eu leio submissões, faço leituras críticas, respondo aos autores, coordeno ilustração, revisão e entrevistas, junto tudo isso num ebook e ainda publico no site.

Mas eu também sou escritor, e volta e meia decido que quero participar daquela coletânea bacanuda, mesmo que eu só tenha dois meses para escrever o tal conto, e sim, eu adoraria participar dessa outra coletânea para qual eu fui convidado. Faço leitura crítica para amigos, estou organizando uma oficina de escrita literária online, e oh, que honra, claro que topo coordenar a área de escrita da sua escola de cursos. Além de tudo isso, escrevo alguns textos como redator publicitário que pagam a ração da Estrelinha.

É, talvez eu tenha um problema.

Ainda vou escrever sobre meu método para gerenciar a vida. Não é perfeito e coisas atrasam, mas ao menos consigo escolher o que fica para trás, e nunca são os jobs que envolvem dinheirinho. Nunca atrase um freela. Sério. É o atalho mais curto para não conseguir outros.

Por isso este artigo é sobre pânico. Isso, FOCO. E pânico.

Às vezes as coisas saem um pouco mais do controle do que deveriam. Isso acontece quando um feriado prolongado chega de voadora no meio da semana. Sim, eu trabalho de casa, sim, eu faço home-office, mas quando a esposa está de folga, eu tiro o dia para aproveitar com ela. O trabalho ficará ali me esperando voltar, no worries, be happy. [Sem preocupações, aproveite.]

Tenho um cliente para quem entrego oito textos por mês. Não é muito, eu poderia fazer dois por semana, olha que tranquilo. Mas, né? Primeira semana, faço um texto. Segunda semana, faço outro. Terceira semana tem umas coisinhas da Trasgo para resolver. Ah, meu Deus, eu só tenho uma semana e seis textos para escrever e revisar, caramba, corre! Também já precisei usar esta técnica para fechar um freela gigante com prazo apertadíssimo.

Ou acontece algo super legal, como, por exemplo, uma Bienal que me leva a uma semana inteira no Rio de Janeiro jogando no PS4 do meu cunhado fazendo turismo na cidade maravilhosa.

Estava eu, na semana passada. Novembro tem um pouco mais de movimento nos freelas, (escrevo cartões de Natal para clientes, yay!), quando descubro que o trabalho final do curso de narrativa, um conto, não era para o fim do mês, mas para segunda-feira. E percebo isso na quinta. Hora de mergulhar no mundinho.

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Se tem uma coisa pela qual jornalista tem tesão é deadline. É a data de entrega. Ou apresenta o trabalho nesse dia, ou esquece a publicação. A descarga de adrenalina de ver a essa tal deadline monstruosa chegando perto transforma qualquer catador de milho em datilógrafo.

Escritor é a mesma coisa. Prazo é bom, é aquela chicotada gostosa que te obriga a jogar mais cem palavrinhas na tela para chegar até a meta. Ou o Nanowrimo não teria tantos fãs e participantes.

Como ter foco quando quando o monstro gigante do prazo já chegou à praia

Meu método é declarar “estado de emergência” e acabar com as mordomias. Espero que alguma coisa daqui possa ser útil para você também.

Primeiro, saio de todas as redes sociais. Saio mesmo, clicando no botão de sair, esquecer as senhas e coisa e tal. O trabalho de digitar a senha me dá cinco preciosos segundos de consciência pesada, é o suficiente para fechar a janela e desistir daquela olhadela… Quase sempre.

Abandono todos os compromissos que não colocam bacon na mesa. A Trasgo está há uma semana sem tweets? Fica mais uma. O Viver da Escrita deveria ter post novo? Ninguém vai ter crise de abstinência se eu atrasar uns dias. A newsletter está atrasada? Paciência… A gente compensa com algum conteúdo legal.

Tenho uma DR com minha lista de tarefas. Olho tudo o que tenho para fazer e separo o que eu realmente tenho que fazer. Então faço uma lista nova. Às vezes no Evernote, às vezes no papel. Enquanto o estado de emergência durar, é essa lista a que vale. Ela é necessária para que eu não resolva um problema urgente e perca o prazo de outra coisa importante. Mas a negociação tem que ser somente entre essas tarefas, sem me distrair com as outras. E também porque um único trabalho pode envolver várias tarefas, vários textos, então me organizo direito para saber em que ordem vou executar tudo. Se a pesquisa será feita toda no início ou em partes, se a revisão fica para o final ou se farei entregas parciais.

Eu escrevo. Trabalho. Acontece uma coisa engraçada quando você realmente tem que entregar algo. Três da tarde. Eu já escrevi três mil palavras. Estou cansado. Eu bato a cabeça no teclado algumas vezes, respiro fundo e recomeço a digitar. E magicamente as palavras vão aparecendo na tela. Não precisam ser boas palavras. Não agora.

Abaixo o volume do auto-filtro. Eu preciso entregar, não escrever o próximo ganhador do Jabuti. Então manda bala, escreva um texto ruim porque é muito mais fácil reescrever uma porcaria para transformá-la em menos porcaria do que tentar acertar da primeira vez. (Se bem que essa é a minha filosofia geral sobre textos. Escrever é difícil. Reescrever é mais fácil.)

São épocas insanamente produtivas. Muitos textos pelos quais tenho muito carinho surgiram desses surtos de escrita, martelados em fins de semana e noites regadas a café. Quando o monstro gigante finalmente chega à sua porta deixando uma pegada enorme no asfalto que a companhia de tráfego só vai arrumar depois de meses, você entrega o job e fim. Acabou, monstro.

Agora, senhor viver-da-escrita, se você consegue ser até três vezes mais produtivo nessas épocas, por que não montar uma rotina hiperfocada sempre?

Porque não há chocolate o suficiente no mundo. Por causa da ressaca. Depois de um período desses, costumo ficar dois dias sem conseguir produzir nada que precise de muita concentração. Nesses períodos costumo resolver aquelas várias mini-pendências que se multiplicam na lista de tarefa como gremlins. Responder e-mails, compartilhar esse e aquele artigo, aprovar comentários.

Se eu fosse uma pessoa normal, eu conseguiria arrumar toda a minha agenda no mês disponível. Mas… Quem não tem disciplina caça com períodos de surto mesmo. Ou algo assim.

Frase do dia: Pizza de anchovas é uma coisa que existe mais na ficção do que no mundo real.

Foto: lincolnblues via Compfight cc

Publicado em Pensamentos Redação no dia 18 de novembro de 2015

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