Privilégio é um assunto espinhoso que me faz pensar há muito tempo, me empurra de lá para cá navegando nas turbulentas questões, “por que escrever? O mundo precisa de mais um homem branco cis escrevendo? Será que eu sou lido só porque tradicionalmente faço parte desse grupo que sempre teve palco?”
Isso tem sido uma pedra no meu sapato há um bom tempo. Mas também, eu sou praticamente a sua caricatura: homem, branco, cis, hétero, classe média, casado e com filhos, dois cachorros, dois carros na garagem, casa própria.
Para você ter uma ideia, minha esposa fez umas fotos da nossa família, ficaram lindas, mas parecem aquelas fotos de propaganda de apartamento, 120m² com varanda gourmet.
Então vamos falar sim de privilégio.
Antes, o primeiro elefante. Tenho a sensação de que tudo o que está escrito abaixo é bem óbvio. Mas talvez só porque leio muito sobre o assunto, e para alguém falte esse textinho inicial. E também, o povo parece não entender mesmo, então resolvi ser didático. Isso não é um manual completo. Talvez uma receitinha de como começar a pensar o assunto.
A primeira coisa a desmistificar é que privilégio não é uma escala linear, uns mais outros menos. Em vez disso são eixos que se influenciam de acordo com o contexto social e cultura (e por isso cultura é tão importante para o discurso dominante).
O eixo mais óbvio, claro, é o financeiro. Quem tem dinheiro e quem não tem. É o que se sobrepõe aos outros e determina a intensidade da sua experiência em relação ao discurso dominante.
Depois, racismo. A cor da sua pele abre ou fecha portas no Brasil. Sexo. Mulheres ganham menos e enfrentam uma série de pressões sociais. Gênero. Pessoas LGBTQ+ muitas vezes precisam gastar energia demais apenas para existir.
Você pode ser mulher e rica. Homem e pobre. Homem, rico e gay. Negro, hétero e rico. Mulher, trans, pobre e branca. Percebe? Cada eixo vai ter certa influência sobre os privilégios que você tem acesso.
E ainda estamos nos eixos mais discutidos. Leve em consideração também neurotipicidade (ausência de distúrbios psciológicos e neurológicos), família não-tóxica, ausência de problemas com álcool e drogas (próprios ou de pessoas próximas), local de moradia e criação, acesso a cultura, ausência de doenças crônicas, enfim, a lista é grande.
Como privilégio é invisível, não é fácil enxergar tudo o que faz a sua vida mais fácil. Mas se vamos falar disso, o primeiro ponto é enxergá-lo como uma questão complexa e cheia de nuances.
Dinheiro, merecimento e meritocracia
Ninguém acha que ganha o suficiente para ser privilegiado.
Eu sei que você aguenta chefe, cliente, trânsito e rala demais todo dia para poder pagar os boletos daquilo que você conquistou. Eu não estou dizendo que não. Estou dizendo que não existe relação direta entre esforço e resultado. Tem gente que trabalha o dobro, com o dobro de garra, e conquista metade. E há quem viva bem à base de quatro horinhas semanais na empresa do pai. O mundo não é justo.
Admitir privilégio incomoda. Contradiz a narrativa que construímos para nós mesmos.
Meritocracia até pode ser um ideal a atingir, mas somente se admitirmos que o jogo está adulterado, quem já tem começa (muito) na frente. Não existe self made man, ninguém se faz sozinho.
Sim, sempre vai ter alguém tirando um exemplo da cartola. Ir além da anedota é olhar o sistema. Se o mundo fosse como a galera coach diz que é, o ônibus das cinco da manhã estaria lotado de futuros milionários.
Outra coisa: quando falamos de dinheiro, não basta olhar a própria conta bancária. Quanto dinheiro têm seus pais? Seus amigos próximos? Se você perdesse o emprego, teria o que comer? A casa de alguém pra morar? Pensar de maneira estendida é importante justamente porque um dos maiores privilégios, e dos mais invisíveis, chama-se “rede de segurança“: a possibilidade de investir (tempo, dinheiro) em algo de retorno futuro, poder tentar pular porque você tem um chão macio para cair se der errado. Arriscar porque não há necessidade de colocar o jantar na mesa hoje.
E já que estamos falando de família, entenda que a narrativa da sua família não é a sua. Seu pai pode ter começado bem de baixo, e de condições humildes cresceu e hoje vive confortavelmente (ascensão social era mais comum nas décadas anteriores). Mas você cresceu com essa rede. De qualquer modo, privilégio não é uma constante, depende do momento. Às vezes você nunca foi privilegiado, agora é. Do mesmo modo, mudar-se para o exterior é virar estrangeiro (perda de status).
Ou seja, privilégio diz respeito tanto a como você está quanto como chegou.
Tá, Rodrigo, muito bonito esse seu texto pra rico ler. Agora dá licença que eu preciso trabalhar para colocar comida na mesa.
A gente costuma olhar pra cima e não enxergar a realidade do mundo. Há pouco tempo, enquanto eu esperava minha casa ficar pronta, estava morando temporariamente em uma casa aqui próxima, de cerca de 60m². Com duas crianças e em caráter temporário, eu nunca conseguia deixar as coisas em ordem, e sempre tinha pilhas de roupas e tralhas na sala. Então, um dia disse para a senhora que nos ajudava com a faxina, “desculpa a bagunça, é que a casa é pequena e a gente não consegue se arrumar”, ao que ela respondeu “que é isso, Rodrigo, a casa é ótima, tem bastante espaço!” E me dei conta de que a casa onde ela morou a vida inteira e criou os quatro filhos, ali perto, é bem menor do que aquela.
Que vergonha.
Uns cinco anos atrás saiu uma pesquisa que dizia que 75% da população brasileira se considerava classe média. Por faixa, o mesmo valia para 55% da elite e 35% das classes baixas.
Se consciência de classe e autoanalise sincera sobre os seus privilégios (e falta deles) é tão importante, como eu descubro em que degrau social estou?
Sem dados concretos, você vai basear a sua percepção no seu redor, o que gera grandes distorções, até porque a gente só olha pra cima.
O jornal Nexo tem um infográfico maravilhoso chamado “o seu salário diante da realidade brasileira.” Vai lá, 5 minutinhos: www.nexojornal.com.br
Eu coloquei ali os R$ 4.500 que eu tiro por mês e está lá, em letras garrafais: você ganha mais do que 89% das pessoas do seu estado. Mais que 93% dos brasileiros.
Agora, o outro lado. Para colocar em contexto, segundo o IBGE (2018), “enquanto a parcela [de 1%] de maior renda arrecadou R$ 27.744 por mês, em média, os 50% menos favorecidos ganharam R$ 820.”
Resumindo: se você ganha mais que 27 mil dinheiros, você é rico. Se você ganha menos que 800, você é pobre. Qualquer coisa no meio, você sabe que tem gente que vive muito melhor, mas também com menos.
A gente poderia estabelecer mais faixas, discutir como defender bancos e capitalização sem fazer parte daquele 1% é estupidez, ou comentar sobre rico dizendo que passa perrengue em Miami com 30 mil por mês, mas isso desviaria um tanto do assunto.
Então, eu não sou rico. Mas ainda ganho mais que a maioria. E você?
Tá bom, eu admito que sou um pouco privilegiado. E agora?
O que fazer com essa informação incômoda?
Primeiro que você nunca deve esperar que alguém do grupo oprimido ou menos privilegiado te dê as respostas prontas. É sua responsabilidade ir atrás disso e estudar como ser um aliado, como cometer menos erros, como ser uma pessoa melhor.
Você nem ia gostar das respostas mesmo.
Até porque quem mandou a real foi Jesus, para o playboy que queria entrar no reino dos céus. “Abandone as riquezas e me acompanhe”, o que deixou o rapaz #chatiado.
Lá fora tem uns movimentos bacanas sobre o que fazer com dinheiro herdado, construído a partir de empresas poluentes, mão de obra barata e capital especulativo.
Contudo, a menos que você faça parte daquele 1% que realmente tem grana, o que você pode fazer com sua grana tem muito mais a ver com criar um ambiente decente do que injetar dinheiro para mudar alguma coisa.
Gosto da ideia de pagar adiante, ou melhor, fazer por merecer o privilégio que você já tem.
No fim, ter privilégio não significa não merecer o que se conquistou, mas aceitar que você foi beneficiado por uma ou mais condições (ou que você não teve que lutar contra o mundo inteiro no processo).
O que fazer com privilégios financeiros
Faça uma análise sincera de como o seu padrão de vida impacta nas pessoas à sua volta, principalmente as menos privilegiadas. Comece pela sua casa. Você tem empregados, babás, jardineiros? Eles recebem pagamento digno? Condições adequadas? Horas de trabalho humanas? Cumpre a legislação? Faz o mínimo? Só o mínimo?
Você é tão tolerante com os imprevistos do seu pessoal do que com o dos seus pares? Por exemplo, você consegue entender e aceitar que sua empregada falte porque foi levar o filho ao médico do mesmo jeito que aceita isso de um colega de trabalho?
A ideia aqui não é julgar, mas propor essa reflexão, tão básica. Humanidade mínima.
Da sua casa parta para os sistemas próximos do qual você é beneficiado. Como o seu condomínio trata os empregados? E no emprego, como é a relação com a galera mais simples? O pessoal da limpeza é contratado mesmo, com os mesmos benefícios, ou terceirizado por aquelas empresas péssimas de “serviços”?
Uma vez li um argumento proposto por um entidade internacional de que o salário do topo da pirâmide não poderia ultrapassar 20 vezes o da base. Quer aumentar o bônus do CEO? Vai ter que mexer lá embaixo. (Nunca mais achei o link para o conceito, se souber me manda?).
Você tem algum poder de decisão para mudar isso? Alguma influência sobre quem tem?
Outro dia estava lendo sobre o tabu que se criou sobre não falar o próprio salário, de como isso só beneficia o patrão e faz com que duas pessoas ganhem valores diferentes para a mesma função. Principalmente se uma delas for homem e branco, a outra não.
O que não estava escrito é como nós alimentamos o tabu por vergonha, pressão social, ou coisa parecida. E você? Discute salário com os colegas?
O que fazer com privilégio social
Nem todo privilégio é financeiro, e outros tipos costumam ser mais invisíveis ainda. Principalmente por dependerem muito da cultura onde se está inserido.
Por exemplo, se você for branco, você não precisa se provar o tempo todo. Não é fácil para quem está de fora enxergar o racismo em um comentário bem intencionado, por exemplo.
Então, o mais importante a fazer é calar a boca e escutar. Abstenha-se de dar a sua opinião, já tem gente muito mais qualificada comentando, e você aprenderia muito se simplesmente parasse para ouvir.
Nem todo homem…” Essa é uma frase que precisa sair do seu vocabulário. Nada denuncia mais o seu privilégio do que essa necessidade de defender o seu grupo a todo custo. É claro que nem todo homem, é claro que nem todo branco. Mas, lembre-se estamos falando de privilégio, o que é algo sistêmico.
Essa frase é uma tentativa de invalidar o argumento do outro, o que só atrasa a discussão e ajuda a normalizar o discurso opressor. Então, ouça o que o outro tem a dizer. A carapuça serviu? Melhore. Não serviu? Ótimo, está no caminho certo. Seja um aliado e não invalide o discurso, que a carapuça tem muitos tamanhos.
Para reforçar o argumento, deixe-me fazer uma comparação com futebol. Quando se diz “Os jogadores de futebol ganham salários milionários”, ninguém interrompe para dizer “MAS NEM TODO JOGADOR, o Joílson do Quinze de Pindaíba, mal ganha um salário mínimo!” Você não está na terceira série, você é capaz de fazer automaticamente a exclusão dos que não se enquadram. Não pague o mico de dizer “nem todo homem”.
Você como pessoa branca não tem que subir no palco pra falar de racismo. O nome disso é lugar de fala. Você tem algo realmente importante para acrescentar? Uma longa pesquisa, um trabalho extenso, ou vai falar de achismo porque você se acostumou a ter sua voz ouvida?
Em vez disso, use o seu palco. Promova o pensamento e voz de quem tem lugar de fala na discussão. Traga para a superfície as vozes que precisam ser ouvidas.
Divulgue o trabalho incrível de gente menos privilegiada. Saia da sua bolha e tente tirar seus pares de lá também. “Ah, eu leria autoras — negras, LGBT, nordestinas, insira aqui o preconceito — mas não tem nenhuma escrevendo fantasia e…” PERAE, JÁ LEU… E manda a lista.
Só que pra isso você também precisa sair da sua bolha e conhecer esse pessoal. Compre livros desses autores e autoras, leia as revistas online, a maioria gratuita, que traz uma diversidade de vozes como a Trasgo, Mafagafo, Faísca, Balbúrdia, Resistência Afroliterária, entre outras.
Presenteie. Dê um livro, um quadro, uma arte, que você sabe que teu amigo privilegiado jamais consideraria. Uma galera que diz que não lê fantasia nacional mudaria de ideia ao ganhar um bom livro desses, e exemplos não faltam.
Se você tem alcance, use-o. Eu sou editor da Trasgo, e apesar da pequena audiência, trabalho ativamente para ampliar e diversificar as vozes. A última coisa que eu quero é que a revista se torne um clubinho de contos de gente rica e branca. Evitar isso dá trabalho, requer guarda constante.
Crie ambientes seguros. Puxe a orelha de seus amigos. As palavras mais fortes que você pode dizer é “cara, isso não foi legal.” Tem uma série inglesa de propagandas muito boas sobre isso, chamada “respect women: call It out“. São simples, didáticas e incomodam.
Chamar a atenção de um amigo é contrário ao nosso instinto de autopreservação social, não é trivial. Requer coragem. E é sua responsabilidade usar o seu privilégio pra isso.
A Gillette inclusive fez um comercial supimpa capitalizando sobre a mesma ideia, o que mostra como o discurso cultural vem mudando num contexto global.
Chamar a atenção exige a maturidade de acreditar que as pessoas podem mudar se entenderem aquele comportamento como errado. A gente costuma ficar quieto. “Ele é assim mesmo”. Está na hora de um empurrão, ou por que você ainda anda com esse tipo de companhia?
Outro dia mandei um email para um amigo médico com alguns links sobre gordofobia, pois volta e meia via nas entrelinhas de suas postagens online algumas coisas que não achava legal. Mandei o material para ele estudar, refletir. Se isso tivesse vindos de um paciente gordo, a leitura seria completamente diferente, seria defensiva, “você entendeu errado, eu não quis te ofender”. Em vez disso ele agradeceu por chamar a atenção para esse ponto cego que ele não enxergava, pois ninguém mostrou para ele.
Nesse mundinho de redes sociais a gente acha que todo mundo está vendo a mesma coisa. Só que não.
Como lidar com tudo isso na escrita e no fazer artístico?
Esse dilema sempre me incomodou, a ponto de eu me questionar se deveria parar de escrever e só editar, que é algo que também adoro fazer.
Mas, não adianta, preciso escrever, colocar para fora as ideias, emoções, questionamentos. É escrevendo que me entendo (por isso este longo artigo sobre privilégio. Concatenar em palavras um monte de pensamentos soltos me ajuda a descobrir o que penso de verdade).
Preciso escrever. Mas não preciso ocupar espaços. Meu bloguinho está de bom tamanho.
Uma vez que você começa a estudar e entender privilégio, é um caminho sem volta: você não quer ser parte do problema, e vai tentar deixar de repetir tropos e estereótipos preconceituosos. (Claro, vai ter que estudar quais são.) E vai tentar incluir diversidade na sua produção.
E então, é aquele negócio, você vai errar, faz parte, abaixa a cabeça e escuta, melhora na próxima.
Mas tem uma questão sobre lugar de fala: não cabe ao privilegiado contar a história do oprimido. Se você quer trabalhar com inclusão, precisa ser capaz de enxergar a realidade num espectro mais amplo, e trabalhar seus personagens muito além da caricatura do papel de oprimido.
Lugar de fala: um subtítulo que merecia um artigo próprio
Como este é o assunto do momento do mercado com a grande discussão em torno do livro “American Dirt”, escrito por uma autora americana sobre uma mãe que parte do México para os EUA.
A questão de “Lugar de Fala” não é que ela não tinha o direito de escrever o livro. Mas que comete uma série de erros grotescos que reproduz um discurso dominante e preconceituoso em relação à população mexicana. O ponto cego é tamanho que ela não consegue nem acertar o nome do protagonista, usando Luca (italiano) em vez de Lucas (latino).
Aqueles que partiram em defesa da autora levantam o mesmo ponto: um autor tem capacidade de imaginar a vida em outros corpos, outros contextos, existentes nessa realidade ou não. “Claro” que um branco americano consegue imaginar como é a vida de um negro no Brasil, com um pouco de pesquisa.
Só que você vai acabar escrevendo a partir de um ponto de vista e contexto inerentes à sua visão de mundo. Você vai acabar escrevendo a partir do ponto de vista de um autor americano estudando sobre a vida de um negro no Brasil, o que é diferente de viver a experiência.
Ah, então eu só devo escrever a minha experiência? Não é isso. Mas deve tomar cuidado com experiências formativas essenciais a um grupo que não é o seu. Não cabe a uma pessoa cis escrever sobre a experiência de se descobrir uma pessoa trans, ou sobre a experiência de transicionar. Assim como um homem cis não é capaz de escrever sobre a experiência da primeira menstruação, salvo de maneira derivativa, a partir da experiência de outras mulheres.
E quando você escreve de maneira derivativa, você tende a repetir o discurso hegemônico, pois é a narrativa que está mais presente no contexto social. Daí para repetir discursos problemáticos é um pulinho.
Só que isso não impede que você escreva personagens diversos. A experiência formativa não é a única de qualquer pessoa. Um negro não vive apenas experiências racistas. Um gay não passa o tempo todo provando para o mundo que é gay. Um pirata espacial pode ser gay e isso não ter nada a ver com a narrativa, é só uma característica, assim como o cabelo azul. Sua capitã de batalha pode ser uma mulher negra em um universo onde cor de pele não é uma questão.
Em palavras mais simples, você pode (deve) colocar personagens de diferentes raças, origens, orientações sexuais, desde que:
a) a história não seja sobre a identidade do personagem
b) essa não seja a única “função” do personagem (o amigo gay, o sidekick negro, etc).
José Older tem um artigo bem bom sobre chamado 12 fundamentos para escrever o outro, traduzido pela Cláudia Dugim, cujo item 4 me assombra desde então:
Esqueça o outro. Você consegue escrever sobre si mesmo?
Todo o tempo que despendemos escrevendo sobre o outro, nós negligenciamos o verdadeiro problema sobre escrever nós mesmos. Os privilégios sobrevivem na invisibilidade e no silêncio. Privilégios também nos cegam a respeito de quem nós somos e de como somos vistos pela sociedade à nossa volta, e não percebemos que possuímos um escudo que nos dá proteção extra no jogo da representação social. Então vemos tantos caras bonzinhos e perfeitos, salvadores brancos e machos que fazem tudo “certo” e sabem exatamente como agir.
Você, possivelmente, não tem ideia de como os outros o percebem e, principalmente, se a imagem que faz de si mesmo é desconfortável por conta da qualidade do poder que ela perpassa. Salta na página este tipo de abstração do escritor.
Não existe escassez quando o assunto é livros de pessoas brancas falando de pessoas negras, o que não vemos muito são livros de pessoas brancas escrevendo sobre a experiência emocional, política, e social de ser um branco, os desafios e complexidades de ser branco. Nós não vemos muitos homens escrevendo sobre o patriarcado, como isso nos estragou, como diariamente ao nosso redor, aqui e ali, dançam os discutíveis gêneros binários. Sim, isto soa como tópicos para uma dissertação, mas na verdade são exatamente os tipos de conflitos internos que dão vida a um personagem.
Desculpa, não tem conclusão, só dever de casa
Reconhecer privilégio não é admitir ter trapaceado no jogo. Sequer é falar que sua vida é fácil, a de ninguém é. Os problemas diferem, mas cada um sabe o que se passa debaixo da própria pele.
Discutir privilégio é, na verdade, aceitar que o mundo não é justo, é uma merda pra muita gente e erguer a mão pra dizer ”e aí, como a gente começa a melhorar isso aqui? Como a gente faz pra ficar bom pra todo mundo?“
[…] os privilégios para transformar a sociedade. É, tem muita gente que fala disso também. Tem até artigos interessantes sobre o assunto. Mas querer usar os privilégios para o bem dos menos privilegiados também traz seus problemas. […]