Com a pluralidade de canais à disposição (Medium, Scribe, Wattpad, Widbook, WordPress, Facebook), além das possibilidades de autopublicação e claro, da construção de um canal próprio, decidir onde publicar um texto pode ser até mais difícil que escrever o danando.
Não vou destrinchar as particularidades de cada canal, até porque pretendo falar deles em posts próprios. Antes, vamos olhar as opções por um prisma maior e tentar responder à seguinte questão: o que é melhor: criar um canal próprio ou utilizar um dos vários serviços à disposição?
Um canal próprio é um blog com domínio exclusivo, hospedado em um servidor que você paga todo mês ou ano. A parte da não-gratuidade é importante, pois (muitas vezes) é o diferencial que garante a liberdade de mudar de hospedagem sem que o leitor perceba, ou fazer experimentos em modelos de negócio.
Utilizar os canais prontos disponíveis é brincar no parquinho dos outros. É divertido, todos os brinquedos estão ali à sua disposição, mas você não pode mudar a posição do escorregador, ou mandar instalar uma caixa de areia nova.
Conhecimento técnico e coisinhas brilhantes
Um canal próprio exige um mínimo de conhecimento técnico (ou que você contrate alguém que tenha). Assim, permite que você crie o seu canal exatamente do seu jeito. Quer ele com cara de revista? Pode. Com vídeos enormes em tela cheia? Opa, claro! Com fadinhas brilhantes perseguindo o mouse. Tem certeza? Ok…
Essa é uma moeda de duas faces. Quanto mais opções, maior a tentação de ficar trocando a fonte, widgets, cabeçalho e aquela página de termos de uso que ninguém vai ler, em vez de escrever e publicar os posts que importam.
Quando comecei a planejar o Viver da Escrita, tomei a decisão de usar um tema pronto, sem fazer modificações para não perder esse tempo. Ha-ha. Foram dois dias inteiros de “ah, mas só o topo… ah, mas essa imagem não está no lugar certo… ah, mas o rodapé…“
Ao restringir opções, o canal pronto é uma grande vantagem. Você escreve logo o raio do texto, geralmente com escolhas mínimas de estilo. Também não exigem conhecimento técnico algum, basta fazer um cadastro e sair publicando a vida adoidado.
Audiência emprestada
Até agora, nada de novo. Então vamos logo para o cerne da questão.
Construir público para um canal próprio é difícil e lento. Todos os grandes portais de conteúdo que estão por aí levaram pelo menos cinco anos de trabalho duro para chegar a um patamar que alguns autores atingem em poucos meses em uma grande plaforma como o Wattpad ou o Medium.
Nisso os canais prontos brilham. Eles colocam o seu texto na frente de uma grande audiência, aumentando muito as suas chances de “ser descoberta”. Também possuem canais internos de divulgação, de modo que um fã seu possa recomendar a outros dentro do próprio canal, fortalecendo sua audiência. Utilizar bem os comentários e criar uma boa relação com outros produtores de conteúdo também é um ponto-chave aí.
Porém, essa audiência acaba refém do canal, o público foi emprestado a você. É difícil construir algo diferente a partir desse público, a limitação da forma torna difícil apresentar propostas novas. (Por exemplo, se você tem uma audiência grande no Wattpad e começará a fazer vídeos, você não poderia simplesmente colocar os vídeos na frente da sua audiência, terá que convencê-los a clicar para explorar o seu outro lado).
É como ter uma banda. Você pode tentar marcar um show próprio e torcer para que apareçam mais de duas pessoas (que serão seus fãs de verdade), ou você pode tocar em um festival. O público já está lá e pode gostar do seu som, mas isso não significa que vão comprar sua música.
Dizer que essa audiência é emprestada não é exagero? Não quando as regras do jogo podem mudar a qualquer momento. Isso é um grande problema, que acontece mais do que se imagina. Veja o caso do Youtube na última semana. Com o lançamento do Red, um serviço pago, os maiores produtores de conteúdo foram obrigados a aderir, ou seus vídeos não seriam mais exibidos.
O Facebook é outro que aos poucos exibe conteúdos para cada vez menos pessoas (hoje a publicação de uma página atinge apenas de 2% a 20% dos seus fãs. Posts de perfis chegam ao dobro desse número, no máximo.)
Ou ainda o curioso caso do Fotolog, que foi abandonado por seus donos, deixando à deriva os usuários que desejam excluir suas fotos.
O que quero dizer é que brincar no parquinho dos outros é se sujeitar a regras que podem ser arbitrárias e mudar a qualquer momento. Seu canal, suas regras. Quando você paga um domínio, tem uma lista de e-mails dos seus fãs e alguns outros recursos, seu servidor pode cair, o serviço pode desaparecer, porém, em questão de horas é possível colocar tudo no ar novamente. (Considerando que você tenha um backup. Você tem, não tem?)
Se você quer um outro ponto de vista sobre o assunto leia a argumentação do Youpix neste texto que anunciam a nova fase (e migração para dentro do Medium), e neste que expandem um pouco mais o assunto.
Qual é o seu objetivo?
Ok, há vantagens e desvantagens entre publicar em um canal próprio ou usar os serviços disponíveis. Escolher entre eles depende de onde você quer chegar.
Minha intenção com o Viver da Escrita é criar uma plataforma para divulgar meu trabalho, ajudar os redatores, escritores, freelancers e todo o pessoal que vive da escrita, um projeto de longo prazo e muito texto. Recursos simples que eu utilizo neste blog, como as páginas sobre o meu trabalho e a newsletter Viver da Escrita, não estão disponíveis em outras plataformas.
Inclusive este trabalho começou no Scribe, onde publicava dicas para escritores. Com o bom retorno do público, resolvi dar o próximo passo, e para isso, precisei de um canal próprio.
O conceito de plataforma é o motivo pelo qual muita gente parte nessa jornada maluca que é manter um blog, um podcast ou um canal de vídeos. É a paixão pelo assunto com um algo mais: a vontade de criar algo permanente, de longo prazo. Uma plataforma também não é precisa ser composta de um único canal, você pode aproveitar as vantagens de cada uma delas e espalhar seus tentáculos por aí. Descentralizar o conteúdo, por sua vez, tem vantagens e desvantagens (mais assunto para outro post).
O que importa, no fim, é o seu objetivo. Qual o papel daquele texto, daquele canal, dentro de uma estratégia maior? Na maioria dos casos, usar um canal pronto será de bom tamanho. Às vezes você precisará de alguns recursos extras e da estabilidade de um canal próprio.
E aí, qual a sua escolha?
Realmente, com tantas opções, atualmente fica difícil definir a melhor maneira de expor nosso conteúdo. Eu fiz pela wordpress e tô adorando. Sei que o processo é longo e topei isso; afinal a literatura é atemporal…
Tenho me aventurado pelo Medium, escrevo mais para mim do que para os outros, encontrei nessa plataforma uma boa maneira de ao menos registrar aquilo tudo que escrevo (e sinto)…
Olá, Rodrigo,
Descobri o seu blogue por acaso, mas já fiquei fã. Estou a tentar viver da escrita aqui, em Portugal, mas ainda estou muito perdida. Felizmente tenho encontrado sites e blogues, como o seu, que me estão a ajudar a construir o caminho. Obrigada por isso.