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Sobre acreditar e lutar pela sua arte

Uma das coisas mais difíceis de viver da escrita nada tem a ver com as linhas tortas que saem de sua caneta, nem mesmo com o processo de pensamento que leva a elas. Tem a ver com todo o resto.

Você já contou para alguém que você está realmente tentando viver de sua arte, de sua produção? Sim, viver da escrita, mas também viver de sua ilustração, de seus vídeos no Youtube, de seu blog, do seu projeto jornalístico? O que vem a seguir quase sempre é um olhar de pena.

Não é muito fácil acreditar em si mesmo. Na verdade é difícil pra caramba. Escrever (e fazer arte) é um processo solitário, é visitar seus próprios demônios durante meses, muitas vezes em isolamento, para no fim de um processo quase catártico, entregar para um leitor beta, depois a um editor, para então apresentar ao mundo a joia polida, não a pedra bruta de sua mente.

E nesse processo todo a gente precisa cavar acreditando que vai conseguir chegar ao final com uma joia. Nem sempre é o caso. Aí, sacode a poeira e começa de novo. Um belo dia você decide que é isso que você quer fazer pelo resto de sua vida.

Então, tomada a decisão, alguns dados e estatísticas saltam na sua frente, vestidos de rosa choque e carregando placas luminosas: são publicados por minuto 300 horas de vídeos no Youtube. A cada ano são lançados no Brasil 80 mil livros. Só no Spotify aparecem 20 mil músicas novas todo dia.

E você ali, com seu livrinho nas mãos, se esforça para acreditar que você é especial. “Você vai dar certo, você é foda, cara!” repete para o espelho, renovando a autoconfiança já fragilizada por todo o processo criativo.

Acreditar nisso é mais que importante, é essencial para o sucesso. Todo mundo que chegou lá acreditou, bem no fundo, que daria certo, mesmo que lutasse contra a dúvida.

Porque sem autoconfiança vem a autossabotagem. E essa, meu amigo, é cruel. Em um processo semiconsciente, você perde um prazo de uma coletânea aqui, digita as palavras erradas em um e-mail ali e assim vai minando suas chances.

Certo, respire fundo e acredite em você. Você é foda, cara!

Então, entre um prato e outro de macarrão, alguém da sua família num almoço de domingo vai perguntar, meio sério e meio brincando, quando é que você vai começar a ganhar dinheiro. Se já vendeu algum projeto, quando é que a editora vai lançar mesmo o seu livro?

E aquela certeza de que as coisas vão dar certo já está mais esburacada que queijo suíço. Você abre o coração para pessoas queridas. Você as ouve, afinal, elas só querem o seu bem. Não querem que você sofra acreditando em uma ilusão. Querem que você seja capaz de colocar comida na mesa, como todo adulto independente e capaz.

Mas este não é um texto para reclamar. É para repetir aquele clichê, de que se você não conseguir acreditar em você, olha, vai ser difícil. Pra caramba. A boa notícia é que você não precisa conquistar o mundo todo de uma vez. Só precisa conquistar um leitor. Um único. Depois mais um. E depois mais outro. E de repente você percebe você não tem só mais um ISBN entre vários, mas um livro que algumas pessoas querem ler. E isso é mágico.

Você só precisa continuar estudando, aperfeiçoar-se, treinar muito e sempre. Só assim você vai ficar tão bom a ponto de não poder mais ser ignorado. Pode levar dez anos, pode levar quarenta. Pratique, pratique, pratique. Mande a autossabotagem para o poço de piche, faça com que as críticas, as dúvidas e as cobranças só sirvam para melhorar o seu texto, cada vez mais. Essa é a parte mais difícil de viver da escrita. Acreditar.

Mas acredite. Você é foda, cara.

Frase do dia: Acredito em um mundo melhor onde haja refil de batata frita em fast-foods.

Foto: BlakeLewisPhotography via Compfight cc

Publicado em Pensamentos no dia 9 de junho de 2016

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